19.1.10

All the small things

Hoje faz seis anos que minha avó morreu.
Meus pais mandaram rezar uma missa e fomos os três mais minhas duas tias. Caramba! Seis anos! Passaram muito rápido (e acho que essa é uma tendência, mas não é sobre isso que queria falar).
Percebi que fazia séculos que não ia a uma missa. Antes eu me forçava a ir pra deixar minha mãe feliz nas festas de fim de ano e datas santas, mas depois de um tempo ela mesma parou de insistir, porque acho que percebeu que não adianta ir a um lugar quando se tem tantas dúvidas em relação aquilo.
Admiro sua espiritualidade e até invejo um pouco a capacidade de se engajar tão profundamente em algo, como ela faz, mas acredito que ainda não encontrei algo que me tocasse desse mesmo modo.
Bom, já ia começando a me desviar do assunto novamente, mas o que aconteceu de muito legal foram apenas alguns minutinhos do meu dia e exatamente durante essa cerimônia.
O padre começou a explicar no sermão as leituras do dia do Velho Testamento e eu acabei viajando no que ele tava falando, pois realmente não tenho conhecimentos aprofundados da Biblia. Daí foi que eu tive uma bela ideia.
Se essa era a missa pra relembrar minha avó, então eu ia pensar nela nesses minutos e tentar lembrar das  coisas que marcaram meu relacionamento com ela. Fechei os olhos ali e as imagens da minha infância começaram a surgir em uma cascata de pensamentos.
É engraçado como pequenas coisas marcam demais. A mim pelo menos, visto que tenho uma tendência enorme de esquecer grandes fatos e lembrar de uma frase que alguém me disse uma única vez.
Lembrei de como eu gostava de sentir a textura das unhas da mão dela, ou de como ela me mostrava os livros de escola do meu pai quando criança e lia a cartilha com histórias inocentes de outra época ( acho que devido a essas leituras que minha alfabetização e leitura se desenvolveram tão cedo).
Lembrei da única vez que consegui dormir fora de casa quando bem pequena porque ela me contava história de borboletas ( e de todas as vezes anteriores que tentei dormir lá e tinha medo e pedia pro meu pai ir me buscar), do barulho da rua Ada Mortari e seus quatrocentos cachorros que latiam quando anoitecia.
Lembrei dos seus chinelos pretos de couro com duas tiras cruzadas que não machucavam seus dedos tortos (quase como os meus) e que depois a fizeram escorregar e quebrar a perna (e quase matou todo mundo de preocupação!).
Lembrei do quintal com galinhas que alimentávamos, da cozinha com piso de placas de concreto, dos inúmeros cafés da tarde molhando o pãozinho no leite que aprendi a amar. 
Foram tantas coisas que passaram pela minha cabeça nesses segundos que pude até sentir o cheiro da casa e ver seu olhar de orgulho quando me chamava de bonequinha.
Na real me deu uma puta saudade. Chorei um pouquinho e disfarcei depois que percebi que o padre tinha parado de falar e tínhamos que seguir com o ritual todo.
A missa em si pra mim valeu pelas lembranças que tive de minha avó Luiza. Um nome que adoro e que poderia dar a minha filha, mas que ela odiava (nunca entendi bem porque, afinal é um nome muito lindo).
Esse post é dedicado a ela.
Um grande beijo vó. Acho que era muito pequena pra dizer e entender isso, mas te amo muito.
da sua neta,
Mari

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